Momento Espírita
Curitiba, 19 de Abril de 2024
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ícone Os que choram

        Naquele junho, nas terras da Palestina, estava calor mais do que nos anos anteriores...

        O dia longo murchava lentamente, abafado, enquanto o sol, semi-escondido além dos picos altaneiros, incandescia as nuvens vaporosas...

        A montanha, de suave aclive, terminava em largo platô salpicado de árvores de pequeno porte, que ofereciam, no entanto, abrigo e agasalho,

        Desde cedo a multidão afluíra para ali, como atraída por fascinante expectativa.

        Eram galileus da região em redor: pescadores, agricultores, gente simples e sofredora, sobrecarregada e aflita.

        Ouviram-No e O viram mais de uma vez, e constataram que jamais alguém fizera o que Ele fazia ou falara o que Ele falava...

        O evangelista Mateus assevera: e Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte...

        Vestiu-se de poente e recitou os versos encantadores das Bem-aventuranças – a lição definitiva. O consolo supremo.

        De Seu excelso canto, ouvimos:

        Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados!

        O olho é a candeia do corpo, e todos os olhos cintilam. Lágrimas coroam-nos.

        A figura do Rabi é ouro refletido contra o céu longínquo, muito claro.

        Todos nós temos lágrimas acumuladas e muitos as temos sem cessar, nas rudes provações, oculta ou publicamente.

        Longa é a estrada do sofrimento. Rudes e cruéis os dias em que se vive.

        Espíritos ferreteados pelo desconforto e desassossego, corações despedaçados, enfermidades e expiações...

        Todos choram e experimentam a paz refazente que advém do pranto.

        Crêem muitos que o pranto é vergonha, esquecidos do pranto da vergonha.

        Dizem outros que a lágrima é pequenez que retrata fraqueza e indignidade.

        A chuva descarrega as nuvens e enriquece a Terra. Lava o lodo e vitaliza o pomar.

        A lágrima é Presença Divina.

        Quando alguém chora, a Justiça Divina está abrindo rotas de paz nas províncias do Espírito para o futuro.

        O pranto, porém, não pode desatrelar os corcéis da rebeldia para as arrancadas da loucura.

        Não pode conduzir, como enxurrada, as ribanceiras do equilíbrio, qual riacho em tumulto semeando a destruição, esfacelando as searas.

        Chorar é buscar Deus nas abrasadas regiões da soledade.

        A sós e junto a Ele.

        Ignorado por todos e por Ele lembrado.

        Sofrido em toda parte, escutado pelos Seus ouvidos.

        O pranto fala o que a boca não se atreve a sussurrar.

        Alguém chorando está solicitando, aguardando.

        Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados, Jesus aponta a compensação que hão de ter os que sofrem, e a resignação que leva o padecente a bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura.

        Também podem essas palavras ser traduzidas assim:

        Deveis considerar-vos felizes por sofrerdes, visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as vossas passadas faltas vos fizeram contrair.

        Suportadas pacientemente na Terra, essas dores vos poupam séculos de sofrimentos na vida futura.

        Deveis, pois, sentir-vos felizes por reduzir Deus a vossa dívida, permitindo que a saldeis agora, o que vos garantirá a tranqüilidade no porvir.

Redação do Momento Espírita com base no cap 3
do livro Primícias do reino, pelo Espírito Amélia
 Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco,
 ed. Leal e o cap. V de O evangelho segundo o
espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb.
Em 12.11.2008.

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