Momento Espírita
Curitiba, 19 de Abril de 2024
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ícone A preciosidade dos amigos

Ele era um cavalo jovem, ágil. Pela primeira vez, iria atravessar o grande deserto. Mostrava-se ansioso e não parava de correr, batendo os cascos no chão.

Ao pé do muro, um camelo também se preparava para a grande travessia. Ele comia e comia. Feno e capim. Depois bebeu muita água.

O cavalo aproximou-se dele aos saltos:

Ô camelo, como você é feio e sujo. Vou ter mesmo que atravessar o deserto com você? Vou ser obrigado aturar sua companhia?

O camelo continuou a ruminar.

O caravaneiro selou o camelo, arrumou a carga, a água, montou o animal e partiu. O cavalo na frente, camelo atrás, devagar.

Pedra e areia. Areia e pedra. Como era longe. Como iam devagar. O cavalo, de vez em quando, galopava na frente e depois voltava ao rumo.

Você não andou quase nada! Dizia ao camelo. Você é muito desajeitado. Nem sei como o homem tem coragem de montar você. A impressão que dá é que você vai desabar a qualquer momento.

O velho animal continuava a andar calado, balançando da direita para a esquerda, da esquerda para a direita.

O cavalo continuava saindo da trilha, correndo na frente. De repente, sentiu uma dor aguda no casco. Uma pedra pontuda o tinha ferido. Voltou mancando.

O homem franziu as sobrancelhas e o animal murchou as orelhas. Daí em diante prometeu que não sairia mais do rumo.

Agora, o camelo ia na frente e o cavalo atrás, trotando como podia.

O cavalo começou a ter a impressão de que o camelo andava muito depressa. E ele estava com sede.

Ainda não havia chegado o meio-dia e a cabeça do cavalo começou a doer. Começou a cambalear, a ziguezaguear.

O camelo percebeu que ele estava quase com insolação. Piscou o olho e se agachou.

O cavalo aproveitou e veio repousar ao lado da sombra de uma das corcovas.

Daí, sentiu uma carícia úmida em sua testa escaldante. O velho camelo lambia, com sua língua áspera, o pequeno companheiro.

A tarde veio e chegou a noite. O homem acendeu uma fogueira para vencer o frio.

Voltou o dia e depois muitos outros dias.

Quando houve uma tempestade de areia, o cavalo colocou as suas narinas no pêlo espesso do camelo, para que não se enchessem daqueles finos grãos de areia.

Enquanto rugia o deserto, ele não teve medo. Sentia-se protegido, ouvindo o bater do grande coração tranquilo do camelo.

Finalmente, chegaram à terra das colinas verdes, onde um riacho amarelado corria por entre tendas de peles cobertas de lona branca.

O cavalo mal se reconheceu na imagem refletida na água. Estava cinzento, sujo, cheio de pó.

Ao seu lado, viu se refletir a cara do camelo. Piscou um olho ao cavalo, em sinal de amizade.

O cavalo olhou e não viu mais o beiço pendente, nem a dentuça feia, nem o pêlo maltratado. Viu somente os lindos e grandes olhos do amigo que o tinha ajudado a atravessar o deserto.

Camelo, falou, ganhei um pouco de sal. Vamos dividi-lo como dois velhos companheiros do deserto!

*   *   *

Cuidemos das nossas amizades. Nunca percamos um amigo, por desentendimento ou malcriação. Nem troquemos novos por velhos amigos. Todos são valiosos.

Amigos são a nossa segurança nos caminhos da vida.

Redação do Momento Espírita, com base no livro
O cavalinho e o velho camelo, de A.P. Fournier,
ed. Ática.
Em 20.7.2015.

 

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