Momento Espírita
Curitiba, 29 de Março de 2024
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ícone Gratidão e amor

Júlia e Nêne casaram muito jovens. Os anos se passaram, os filhos chegaram e partiram.

A velhice os apanhou e, no caminho, o casal se deu conta de que a idade, com seu rol de coisas pertinentes, havia chegado.

Um dia, Nêne saiu a caminhar e demorou muito para voltar.  Foi então que Júlia percebeu que seu amado perdera a clareza do raciocínio.

A senilidade o abraçara fortemente. O aprendizado dessa nova realidade exigiu grande esforço.

Entretanto, como o amor supera as dificuldades, o casal reforçou seus laços afetivos.

Contudo, logo mais, a meningite atingiu Nêne e a já debilitada capacidade mental perdeu-se completamente.

Ela se sentiu desamparada, abandonada por Deus, e não lhe saía da cabeça a terrível pergunta: Por que nós?

As sombras da tristeza pousaram sobre o lar. Nêne não conseguia sequer andar. Tornara-se um ser estranho, totalmente dependente.

E Júlia despejou lágrimas amargas, colocando para fora a cachoeira da sua tristeza. Então, depois de se esgotarem as pérolas líquidas, ela teve uma ideia.

Pensou que se tornasse a enfeitar a casa, poderia reconquistar a alegria de viver.

Resolveu chamar o jardineiro que anos atrás cuidara do seu jardim. E o senhor José chegou, simples, mal trajado.

Com as mãos calejadas, pediu permissão para trazer o sinhozinho para a varanda, onde poderia vê-lo trabalhar, ver o jardim se transformar.

Ao final do dia, disse a Júlia que tinha algumas noções de massagem. Será que ele poderia massagear os pés do doutor?

Muito reservada, ela autorizou, apesar de não ver muito sentido nisso. Mesmo porque não houve reação alguma por parte do marido. Ela imaginou que José logo se cansaria e desistiria.

Para sua surpresa, José voltava todos os dias. Massageava e conversava, contava causos antigos, coisas vividas com sinhozinho. Fatos dos quais ela nunca tivera conhecimento.

E descobriu ações bondosas praticadas pelo seu querido companheiro: como quando ele permitira que aquela família que deveria ser despejada da fazenda recém adquirida, ali permanecesse por mais um tempo.

Tempo que se alongou até que todos os filhos crescessem e tomassem o próprio rumo.

E da ocasião em que o sinhozinho levara a esposa do senhor José para o hospital e ficara aguardando até que o médico a atendesse.

E quando trouxera guloseimas para as crianças, quando dera dinheiro para o uniforme e para o material escolar...

E José voltava e voltava, cobrando apenas pelo trabalho de jardinagem. A massagem era um presente.

Com o transcorrer do tempo, Júlia observou que Nêne acompanhava com os olhos o trabalho do jardineiro e que esse devolvia o olhar.

Ambos tinham um linguajar particular em que José entendia que devia plantar as flores onde o sinhozinho lhe indicava, ali, de onde ele da varanda podia observar o seu crescimento e o desabrochar da beleza.

O jardim ficou pronto, mas continua sendo cuidado pelo senhor José.

Um jardineiro muito especial, que espantou a tristeza semeando flores nos canteiros e na alma daquele casal.

É, de onde menos se espera, vêm as mãos de Deus espalhar esperança e alegria.

Por vezes, através de um jardineiro simples, com um coração cheio de gratidão e de amor.

Redação do Momento Espírita, com base
em fato narrado por Shou Wen Allegretti.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 29,
 ed. FEP.
Em 22.3.2016.

 

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