Momento Espírita
Curitiba, 29 de Abril de 2024
busca   
no título  |  no texto   
ícone A desgraça real

A vida humana é cheia de embates e angústias.

A transitoriedade de tudo que se liga à matéria produz contínuo estado de incerteza.

O vigor físico da juventude lentamente se vai.

Enfermidades inesperadas podem mudar radicalmente a vida de uma família.

Acidentes, por vezes, ceifam vidas ou causam aleijões.

As surpresas da economia podem frustrar os mais sensatos planos para um futuro tranquilo.

Empresas, consideradas sólidas, vão à falência, gerando desemprego.

Amigos e parentes se transferem para longe ou desencarnam.

Tais eventos, com frequência, são qualificados como desgraças.

Evidentemente, não é possível ignorar o potencial de angústia que possuem.

Não se espera que os homens sejam indiferentes aos graves acontecimentos de suas vidas.

Contudo, o real significado de um fato depende do ponto de vista pelo qual ele é analisado.

Para quem a vida se resume à matéria, tudo o que torna o viver mais difícil ou trabalhoso é lamentável.

Quando não se tem qualquer objetivo transcendente, as ilusões do mundo crescem em importância.

Entende-se que a felicidade decorre de ambições atendidas e de paixões vivenciadas.

O ideal é viver as sensações ao máximo, pois tudo nelas se resume.

Nessa linha de pensar, cofres cheios, glórias e despreocupação talvez sejam o objetivo máximo da existência.

Entretanto, para quem acredita na continuidade da vida após o término da experiência física, o enfoque muda radicalmente.

A vida na Terra é preciosa e o homem deve se ocupar seriamente com ela.

O objetivo da vida terrena não se identifica com ajuntar coisas e gozar sensações.

Trata-se de uma oportunidade de aprendizado, resgate e sublimação.

Todos nascem e renascem com a finalidade de crescer em sabedoria e amor.

Portanto, as dificuldades do mundo não são necessariamente desgraças.

São apenas lições, que testam e desenvolvem as habilidades que as criaturas trazem no íntimo.

Outras vezes, são resgates de erros do passado.

Importa analisar as ocorrências com largueza de visão.

Considerá-las não apenas como se apresentam, no momento, mas também quanto às suas consequências.

A satisfação da vaidade pode conduzir à ilusão quanto ao próprio caráter.

O exercício do poder talvez leve a enganos que somente no correr dos séculos sejam reparáveis.

A riqueza excita o orgulho e, com frequência, complica a caminhada espiritual.

Já uma existência humilde, quando vivida de forma serena e digna, possui o condão de acalmar velhos vícios.

Para saber se um fato é ditoso ou não, importa prestar atenção em suas consequências.

É bom e natural que o homem lute para ser feliz e conquistar uma vida tranquila.

Mas as batalhas da caminhada e suas eventuais derrotas não são desgraças.

A real desgraça reside na indignidade, nos atos que afrontam a consciência, geram um patrimônio de dor, que deverá ser reparado, no futuro.

Desgraçado não é o que sofre, mas o que faz sofrer.

O infortúnio, ao testar a resignação, a vontade e a coragem, pode ser uma bênção.

O triunfo, mediante expedientes ilícitos, é sempre uma tragédia.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita, com base no item 24,
 do cap. V de  
O Evangelho segundo o Espiritismo,
 de Allan Kardec, ed. FEB.
Em 14.12.2021.

 

Escute o áudio deste texto

© Copyright - Momento Espírita - 2024 - Todos os direitos reservados - No ar desde 28/03/1998