Momento Espírita
Curitiba, 28 de Abril de 2024
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ícone Têmpera

A escritora Cecília Meireles, em uma de suas crônicas sobre educação, diz que não há nada como um obstáculo na vida para revelar a têmpera das criaturas.

Ela se serve do termo utilizado na mecânica industrial dos metais, para falar sobre a resistência humana, sobre sua capacidade de se submeter às altas e baixas temperaturas, moldando-se e remoldando-se.

Ela se refere à rigidez, à resistência. E escreve:

Quando a vida nos vai correndo normalmente, como um rio que resvala pelas pedras, e as nossas ambições e os nossos desejos podem ir para frente, ao sabor da correnteza, somos, em geral, otimistas, generosos, bons e corteses.

Nem tudo, na vida, porém, é facilidade. Em todos os destinos há, um dia, uma rocha, que é preciso galgar.

Nesse momento, se revelam as criaturas tal qual são. Com seus sentimentos de coragem, de heroísmo, de sacrifício, de resignação, de vaidade, de ódio...

Vem-nos à tona toda essa complexidade que somos, essa mescla dos séculos, de raças, de tendências, que se debate no fundo da nossa subconsciência.

E, instantaneamente, a criatura grava na sensibilidade dos que a observam, com traços perduráveis e nítidos, a fisionomia interior que possuía, sem que talvez ela mesma ainda a tivesse percebido.

Nisso se distingue o homem, perfeitamente educado, do que não é.

O primeiro, diante de cada vicissitude, procura absorvê-la, compreendê-la, aceitá-la com a mesma simpatia com que acolheria uma oferta agradável.

Pesquisa-lhe o gosto da amargura e com serenidade o mantém nos lábios, até que eles se divinizem bastante para lhe suportarem o amargor, sem se revoltar.

O outro... me dispensem de fazer o retrato do homem que ainda não é bastante forte, bastante grande, bastante digno da sua condição de homem para receber nobremente um sofrimento - esse tributo da nossa própria evolução!

*   *   *

A dor é a mensageira da esperança. Ela nos ensina a avançar com segurança.

Recordemos como Jesus, quando resumiu toda sua mensagem na magnífica fala do monte, ocupou-se em mencionar as aflições, o sofrimento.

Falou dos que choram, dos que têm fome e sede de justiça, dos que são perseguidos e dos que seriam injuriados. Metade das bem-aventuranças trata de nossa relação com as provações da existência humana.

Ele nos ensinava a receber a dor, pacientemente, fossem quais fossem as circunstâncias em que a defrontássemos.

Mostrava que no mundo teríamos aflições e elas fariam parte do processo de têmpera, de resistência da alma em evolução.

O sofrimento de qualquer natureza, quando aceito com resignação, propicia renovação interior com amplas possibilidades de progresso, fator poderoso, influente de felicidade.

A dor permite o desgaste das imperfeições, proporcionando o descobrimento dos valiosos recursos da criatura.

Após a lapidação fulgura a pedra preciosa.

Aparada a aresta, a engrenagem se ajusta.

Trabalhado, o metal se converte em utilidade.

E o Espírito, sublimado pelo sofrimento reparador, se liberta.

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap.
Como se distingue o educador, do livro Melhores
 crônicas,
de Cecília Meireles, ed. Global  e no,
cap. 17 do livro  
Florações Evangélicas, pelo
 Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de
Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL.
Em 14.8.2023.

 

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