Os tempos eram da Segunda Guerra Mundial. Quando as tropas alemãs adentraram a capital francesa, ele temeu pela sua e pela vida da filha, deficiente visual.
Conseguiu evadir-se de Paris e, depois de muitas peripécias, chegou à casa de seu irmão, na cidade litorânea de Saint-Malo.
Surpreendeu-se ao saber que ele era membro da resistência na cidade. Os participantes estavam no porto, no comércio de peixes, na padaria, no açougue.
Aquele pai atencioso, desde cedo ensinara a menina a ser independente. Andava com tal desenvoltura em Paris que poucos poderiam imaginar que ela não contava com os olhos para auxiliá-la.
Não foi diferente na nova residência. Logo, ela aprendeu a se deslocar, alcançando vários destinos.
Sabendo manusear o rádio, ela passou a fazer transmissões, que pareciam muito inocentes, sem nexo, por vezes.
Toda noite, ela lia capítulos específicos do livro Vinte mil léguas submarinas, de Julio Verne. Cada transmissão era de um capítulo diferente, determinadas páginas.
Tratava-se de códigos que informavam a localização das tropas alemãs ou de alvos estratégicos a serem atingidos.
Não demorou muito para que os alemães desconfiassem que havia uma transmissão clandestina e se esmeraram para descobri-la.
Os que eram surpreendidos, mesmo somente ouvindo uma transmissão, qualquer que fosse, tinham como prêmio a morte.
Um oficial alemão tomou para si esse trabalho. Uma questão de honra encontrar quem, naquele local fortificado que era Saint-Malo, estava transmitindo aos aliados informações privilegiadas.
Ouviu falar da menina que viera de Paris, que se escondia em algum dos imóveis e fazia as transmissões.
Decidido, moveu céus e terra até conseguir aprisionar o pai da garota. Desejava que ele informasse a localização da filha.
E o desafiou, dizendo: Aposto que a dor é mais forte do que o seu amor, seja por sua filha, ou por sua pátria. Eu vou lhe provar isso. Tenho tempo. E paciência.
Durante horas, torturou aquele homem das mais variadas formas. Contudo, ele nada revelou.
Em certo momento, antes que as energias vitais se esgotassem, levando-o à morte, afirmou o prisioneiro: Nada é mais forte do que o amor.
Amor por minha filha. Amor por minha pátria, que desejo livre. A dor não é mais forte do que o amor.
*
Por amor, um ser de excepcional qualidade deixou as paragens celestiais, revestiu-se de um corpo de carne e veio viver entre os homens.
Quando se fez o tempo, ele saiu a semear estrelas no campo dos corações.
Estrelas de igualdade, de fraternidade. Estrelas de solidariedade.
Num tempo de senhores e escravos, de dominados e dominadores, Ele falou de um Pai de amor.
Um Pai que por amor criou tudo e todos. Por amor sustenta o Universo e, todas as manhãs, renova Sua providência, enviando raios de sol, a bênção dos ventos e da chuva.
Amor não amado, Esse Semeador deixou-se imolar numa cruz. E afirmou: Quando eu for erguido, atrairei todos a mim.
Prossegue de braços abertos, aguardando-nos.
Nada é mais forte do que o amor.
Redação do Momento Espírita
Em 17.3.2025.
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