Momento Espírita
Curitiba, 02 de Junho de 2025
busca   
no título  |  no texto   
ícone Exclusividades do amor

Nós os conhecemos há algumas décadas. Casados, jovens, filhos caminhando para a adolescência.

Fomos convidados a adentrar a intimidade do seu lar. Chamou-nos a atenção as dimensões da casa, a que denominamos mansão, pela imponência da arquitetura.

E nos encantamos com os detalhes da decoração.

Coisas da esposa chinesa, delicada nos arranjos. Em cada nicho um bibelô, um raminho de flor confeccionado a capricho, um souvenir de uma viagem realizada em alguma época de suas vidas.

À mesa, porcelana fina, mesmo que fosse para o chá da companheira de atividade voluntária, que chegava para ajustar detalhes de alguma tarefa. Ou que viesse para o estudo de algum tópico específico da doutrina que abraçam.

Sempre nos perguntávamos como alguém pode ser tão criativa, colocando arte em cada detalhe. Um encanto em cada cômodo.

No transcorrer dos anos, ouvimos do casal, ora de um, ora de outro, as tantas histórias que os haviam unido. O primeiro encontro, o consórcio matrimonial, os filhos chegando, um a um.

Acostumamo-nos a vê-los juntos, nas atividades de toda ordem. Ele, o empresário ativo, também o trabalhador que se entregou a voluntariado com tenacidade.

Rolaram as décadas. Um dia, surpreendemo-nos ao encontrar o esposo alquebrado. Parecia ter sido atingido por um raio, que lhe fizesse dobrar a coluna e apagar itens valiosos da memória.

Mal pudemos crer que aquela mente ativa, sempre engendrando planos, dirigindo sua empresa, laborando na fundação em voluntariado pleno, parecesse ter quase tudo apagado da mente.

Médicos, terapias, tratamentos, e ele pareceu querer rebrotar. Flashes se apresentam e ele sorri, ao identificar um amigo, ao lembrar de algo.

Deixou as atividades que lhe tomavam os dias laboriosos. Agora, é somente um cuidar de si, atender às atividades estabelecidas para lhe melhorar a condição física.

Então, descobrimos como o amor faz a grande diferença.

Vemos a esposa sair a passeio, levando-o de carro, pelas ruas da cidade, no cair da tarde, quando o sol vai desmaiando, o ar se torna mais fresco e parece que todos saem a passear.

Ela o estimula a contar os cãezinhos, levados igualmente a passear, pelos seus donos, no final do dia. Um preto, um branco, um beagle, um labrador.

Cães de apartamento, cães de condomínio, cães de casas com jardim. Aqui um maior, bem peludo. É um Golden retriever.

Ela aponta um aqui, outro ali, enquanto dirige e vai chamando a atenção dele.

Querido, olhe: mais dois. Mais três.

Acho que perdemos a conta. Você lembra quantos já encontramos?

Quem, em sã consciência, aos oitenta anos, sai de casa para contar cachorros pela rua?

Somente o amor faz isso.

A casa, menor agora, está para atender tudo que ele precisa. Foram-se os muitos adereços, detalhes decorativos.

Ele coloca um objeto aqui, outro ali. Ela não os retira porque, se trocá-los de lugar, ele não os encontrará depois. E ficará inquieto, sentindo-se perdido.

Sim, somente o amor resiste ao tempo, ao desacelerar do corpo, às nuvens da mente que vai perdendo detalhes, nas esquinas do tempo.

O amor faz coisas incríveis.

Redação do Momento Espírita
Em 23.5.2025

 

Escute o áudio deste texto

© Copyright - Momento Espírita - 2025 - Todos os direitos reservados - No ar desde 28/03/1998