No ano 399 a.C., quinhentos e um membros do Tribunal dos Heliastas, da democrática cidade grega Atenas, reuniram-se para o julgamento do filósofo Sócrates.
O pensador era acusado de recusar os deuses do Estado e de corromper a juventude.
Figura muito controversa, Sócrates era admirado por uns, criticado por outros.
Tinha costume de andar pelas ruas com grupos de jovens, ensinando-os a pensar, a questionar seus próprios conhecimentos sobre as coisas e sobre si mesmos.
Desenvolveu a arte do diálogo, a maiêutica, o momento do parto intelectual, da procura da verdade no interior do homem.
Seus dizeres só sei que nada sei representam a sua sabedoria, reconhecendo que precisava aprender, buscar a verdade.
Por isso foi sábio. Seus exemplos de conduta moral são inigualáveis.
Frente a seus acusadores, foi capaz de deixar lições importantíssimas, como quando afirmou:
Não tenho outra ocupação senão a de vos persuadir a todos, tanto velhos como novos, de que cuideis menos de vossos corpos e de vossos bens do que da perfeição de vossas almas.
Ele foi condenado à morte. A maioria esperava que ele procurasse negociar sua pena, assumindo o crime, e tentasse livrar-se da punição capital, com o pagamento de algumas moedas.
Com certeza, todos sairiam com as consciências menos culpadas.
Todos menos Sócrates, que de forma alguma permitiu-se ir contra seus princípios de moralidade. Assim, aceitou a pena imposta.
Preso por cerca de quarenta dias, teve chance de escapar, dado que seus amigos conseguiram uma forma ilícita de dar-lhe a liberdade.
Não a aceitou. Não permitiu ser desonesto com a lei, por mais que fosse injusta a condenação.
Foram extremamente tranquilos seus últimos instantes na Terra.
Uma calma espantosa invadiu seu semblante, causando admiração aos que o visitavam.
Indagado a respeito de tal sentimento, declarou:
Todo homem que chega aonde vou agora, que enorme esperança não terá de que possuirá ali o que buscamos nesta vida com tanto trabalho!
Este é o motivo de que esta viagem que me ordenam me traz tão doce esperança.
Sócrates tinha a certeza íntima da Imortalidade da alma, e deixou isso bem claro em seus diálogos.
A perspicácia de seus pensamentos e reflexões havia chegado a essa conclusão lógica.
O grande filósofo partiu, certo de que continuaria seu trabalho, de que prosseguiria pensando, dialogando, e de que desvendaria um novo mundo, uma nova perspectiva da vida, que é uma só, sem morte, sem destruição.
* * *
O codificador da Doutrina Espírita perguntou aos imortais:
No momento da morte, qual o sentimento que domina a maioria dos homens: a dúvida, o medo ou a esperança?
Os benfeitores espirituais responderam:
A dúvida para os descrentes endurecidos; o medo para os culpados; a esperança para os homens de bem.
Que possamos nós, como o grego Sócrates, deixar este mundo, de maneira serena, com o coração repleto de esperança.
Sobretudo com a inabalável certeza de que apenas mudamos de cenário. E assumiremos a nossa Imortalidade, prosseguindo a viver.
Redação do Momento Espírita, com base no livro O Fédon,
de Platão, Coleção Filosofia - Textos nº 4. ed. Porto; no
livro Apologia de Sócrates, de Platão, Coleção Aos
pensadores, ed. Nova Cultural; transcrição da questão
961, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB.
Em 28.5.2025
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