Foi assim. Ele seguiu da capital do Estado à cidade próxima. Os Campos Gerais, com suas superfícies suavemente onduladas, campos e declives acentuados cobertos por florestas, o encantaram, mais uma vez.
Sussurros de segredos antigos lhe chegavam à acústica da alma, como se os pinheiros lhe lembrassem algo vivido outrora, em felicidade.
O espetáculo, motivo de sua viagem, o encontrou no Teatro Ópera. Contudo, nenhuma cena do palco, nenhuma performance dos atores o marcou como o que descobriu na plateia.
Era uma jovem de invulgar beleza e seu olhar insistente desejou mergulhar nos olhos dela. Terá ela percebido a insistência com que a contemplava?
Interessou-se em descobrir-lhe a identidade. Os amigos da cidade a conheciam. Era a primogênita do segundo casamento de numerosa família.
No dia seguinte, bateu à porta da casa dela e, tão logo recebido, despejou suas intenções: viera pedir a mão de Conceição.
Afetuoso, o pai foi ao quarto da filha e lhe disse que ela recebera um pedido de casamento. Que devia responder?
Ela se surpreendeu. Quem seria o desconhecido audacioso?
Disse ao pai que, antes de responder, gostaria de ouvir a voz dele. E foi assim, por detrás de um reposteiro, que ela ouviu as respostas firmes do jovem ao seu pai inquiridor.
O timbre daquela voz lhe recordou algo bom, harmonioso. O coração saltou no peito, a mente pareceu mergulhar em um mar de lembranças não afloradas.
No ano seguinte, estavam casados. Corria o ano de 1917. Foram trinta anos de consórcio de ideais, de corações.
Um casamento feliz. A chama acesa na alma, mantida na doçura, somente amadureceu. Fruto sem fim, quando ele partiu, ela manteve seu legado de benemerência e serviço ao próximo.
Não tiveram filhos. Mas cuidaram dos quinze irmãos dela, que conviveram com eles, além de muitos jovens conhecidos e desconhecidos para os quais foram mecenas, pais e incentivadores nas carreiras.
E tudo começou tão de repente. Acreditam alguns que o que surge repentinamente é somente paixão e arrefece nos dias, na convivência, ante os desafios.
Amor assim, surgido do encontro de dois olhos, somente encontra resposta em vidas anteriores.
Amores vividos, compartilhados, retornam ao cenário da carne para o reencontro. Alguns, com o nobre desiderato de espalhar benesses a outros, filhos da alma.
São amores de raiz profunda, fincada nas bases da afeição mais pura e duradoura.
São reencontros de almas afins, por vezes, tendo singrado mares de dores, de dificuldades, em existências várias, consolidando o afeto, amadurecido nos temporais da vida.
Hoje, diz-se amor de rompante. Amor à primeira vista. Trata-se de verdadeiro reencontro de almas.
Traz o selo de planejamento anterior à vida atual. Tudo planificado na Espiritualidade para se concretizar na Terra.
Uma doçura de amor, que ultrapassa o tempo, vence a morte e retorna ao cenário do mundo para reviver a alegria dos esponsais, e distribuir os benefícios de uma afeição verdadeira.
Redação do Momento Espírita, com relato da
vida de Leopoldina Conceição Vicente de Castro
e Hildebrando Cezar de Souza Araújo.
Em 26.9.2025
Escute o áudio deste texto