Não saiba a vossa mão esquerda o que faz a direita, é a prescrição nos Evangelhos.
Alguns seguimos à risca esse preceito e somos dos que ofertamos o que o outro precisa: alimento, água, medicamento, abrigo, educação, sem que alguém nos conheça a doação.
Por vezes, nos surpreendemos criticando aqueles que alardeiam o que fazem. Realizam grandes doações enquanto fotógrafos e repórteres lhes captam as imagens e os depoimentos, que aparecerão nas mídias.
É possível que não externalizemos as nossas críticas, mas as agasalhamos em nossos pensamentos.
Recentemente, lemos a sabedoria de um rabino que nomeia oito níveis da caridade.
No oitavo e mais baixo nível, diz ele, um homem compra de má vontade um casaco para um outro que treme de frio e que lhe pede ajuda. Ele entrega o presente diante de testemunhas para receber o agradecimento.
Na sequência, os níveis de generosidade vão se aprimorando até chegar ao primeiro e mais puro: um homem de bom grado dá o seu próprio casaco sem saber quem vai recebê-lo e aquele que o recebe não sabe quem o ofertou.
Então, o ato de dar torna-se uma expressão natural da bondade em cada um e acontece de maneira tão simples quanto as flores oferecendo o seu perfume.
Naturalmente, os que desejamos seguir as exortações do Mestre Jesus desejamos fazer da maneira certa, sem alarde, sem agradecimentos.
Contudo, a sabedoria do rabino ainda nos levou a uma questão que, quase sempre, nos passa despercebida.
Diz ele: Aqui existe uma situação muito especial. Imaginemos que todas as pessoas fossem generosas com os que estão ao seu redor da maneira como fez aquele homem: dá de má vontade um casaco comprado, na presença de testemunhas, a alguém que precisa e que pediu ajuda.
Se todos nós agíssemos assim, haveria maior ou menor sofrimento no mundo?
* * *
Quando refletimos que o bem alcança quem dele precisa, não podemos deixar de considerar que algumas coisas têm tamanha bondade em si que merecem ser feitas da maneira que for possível.
Isso, com certeza, abala para sempre nossas críticas. Afinal, as doações beneficiarão uma pessoa ou uma comunidade.
Sem dúvida, existem formas de dar que diminuem o outro, roubando-lhe a dignidade e o amor-próprio. Devemos aprender como dar sem tirar nada e, com frequência, aprendemos enquanto o fazemos.
Entretanto, deixemos de nos preocupar em como outros realizam a sua doação, em que nível da caridade se encontram, e vejamos que é melhor doar mal do que não doar nunca.
Somos aprendizes na escola Terra. Alguns ainda nos encontramos nos primeiros bancos escolares, com dificuldade para entender o beabá do amor ao próximo e do desinteresse.
Mas, na nossa leitura tosca de sermos vistos pelos nossos pares, propiciamos a oportunidade da instrução a alguém, apadrinhamos uma criança, ofertamos um presente de Natal.
Ingressando no ensino médio do bem, galgaremos degraus e nos haveremos de graduar e pós-graduar, com louvor.
Por enquanto, não critiquemos e diminuamos as dores do mundo.
Redação do Momento Espírita, com base no cap.
Agindo da maneira certa, do livro As bênçãos do
meu avô, de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante
Em 10.10.2025
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