A médica fora convidada a acompanhar uma amiga para um almoço em homenagem ao dalai-lama, descrito como um homem iluminado.
Rachel já estivera em presença de algumas pessoas consideradas iluminadas e não percebera qualquer diferença entre elas e as outras.
Por isso, resolveu aceitar o convite. O almoço aconteceu num dos mais requintados hotéis da cidade de São Francisco, Califórnia.
No imenso salão, estavam centenas de pessoas importantes, ricas e politicamente poderosas. Homens em ternos de milhares de dólares e mulheres em vestidos deslumbrantes, de etiquetas famosas.
O barulho era intenso. Rachel teve a impressão de que todos conversavam olhando ao redor para ver se descobriam alguém mais importante com quem passar o tempo.
Ela e a amiga foram se sentindo pouco à vontade. Inibidas e desconfortáveis.
Devagarinho, foram se dirigindo para a saída. Nesse momento, o dalai-lama adentrou o recinto, cumprimentando os presentes. Formou-se uma extensa fila.
Por estarem quase à porta, ficaram bem à frente. A amiga de Rachel levara, em uma sacola, três fotografias, montadas com pesada moldura.
Eram de pacientes portadores de câncer, com os quais trabalhava uma nova e inspirada abordagem que desenvolvera. Desejava mostrá-las e fazer uma simples pergunta ao ilustre homenageado.
A sacola tinha umas alças de corda e, enquanto ela lutava para tirar os pesados quadros de dentro dela, chegou em frente ao dalai-lama. Afinal, conseguiu arrancá-las da sacola, que caiu no chão.
Ela conversou com ele sobre o trabalho, olharam juntos as fotografias. A conversa foi calma, como se estivessem sozinhos no salão.
Quando estavam terminando, o dalai-lama sorriu, abaixou-se e recolheu do chão a sacola caída. Da maneira mais natural possível, ele a abriu e a segurou, a fim de facilitar que sua interlocutora colocasse os quadros de volta.
Rachel, logo atrás, tudo observou. Esse gesto espontâneo e simples lhe pareceu poderoso. Nenhum outro homem, mesmo próximo, pensara em tal atitude.
Mas não era o gesto em si o mais importante. O que ela percebera é como ele fora ao encontro da sua amiga, como interagira com ela.
A questão não era colocar as três enormes fotografias dentro de uma sacola. Não era um problema dele ou dela.
Não era um problema, em verdade. Era uma oportunidade de encontro. E o homem sábio não a deixou escapar.
Realmente, pensou Rachel, ele é uma pessoa que faz a diferença no mundo.
Em outro momento, ela escreveria: Grandes mensagens vêm em pequenas embalagens. O simples ato de devolver um objeto perdido ou um papel caído no chão pode ser suficiente para renovar a confiança de uma pessoa na vida.
Quando fazemos isso, tocamos a bondade guardada nessa pessoa e desejamos que ela se desenvolva.
Sei agora que os atos de servir são pequenos, silenciosos e estão em toda a parte. Aprendi que servimos muito mais com nosso modo de ser do que com aquilo que sabemos.
E todos servimos, mesmo que não estejamos conscientes disso.
Redação do Momento Espírita, com base no cap.
Recebendo o alimento, do livro As bênçãos do meu avô,
de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante.
Em 13.10.2025
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