Momento Espírita
Curitiba, 13 de Dezembro de 2025
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ícone O amor não se aposenta

Era um dia semelhante a outros tantos que chegava ao fim naquele verão. O vento soprava suave, a água corria serena no rio, e o sol, generoso, aquecia aquelas horas.

Era um passeio igual a muitos outros, feitos ao longo dos anos. Algo, no entanto, dizia à intimidade de Pedro que esse teria um diferencial. E ficaria gravado na memória.

Desde os sete anos de idade, quando gradativamente começou a perder a visão, ele aprendeu a viver em um mundo de sombras.

Durante muito tempo, cada passo exigia a ajuda de alguém. Até que um dia, aos seus dezessete anos, chegou Tommy, um labrador claro de olhar doce e coração imenso.

Com ele, Pedro descobriu a liberdade de caminhar sem depender de outra pessoa. Descobriu que podia atravessar ruas, entrar em ônibus, visitar amigos, sentir-se novamente dono de sua própria história.

Tommy não era apenas um cão-guia. Era a possibilidade de ver sem os olhos. Era a ponte entre o escuro da sua deficiência visual e a claridade da vida que continuava acontecendo. Era a liberdade.

Durante quase dez anos, foram inseparáveis. Juntos, enfrentaram trilhas, viagens, mudanças de casa, de cidade, dias de chuva e de sol.

Tommy foi segurança, companhia, amigo fiel. Pedro aprendeu a confiar, a erguer a cabeça, a sorrir para a vida apesar da ausência da visão.

Naquele dia de final de verão, reuniu amigos e levou Tommy para a trilha. Deixou que ele corresse, sentisse o vento no rosto, se refrescasse nas águas do rio, que ele tanto apreciava.

Tommy nadou até cansar. Depois, foi deitar-se no colo de Pedro, exausto e feliz. Um gesto simples, mas que anunciava o encerramento de uma etapa.

De volta para casa, o gesto mais doloroso aconteceu em silêncio. Ao pendurar a guia no lugar de sempre, Pedro compreendeu: era a última vez. O fiel companheiro não seria mais seu guia. Chegara para ele o momento da justa aposentadoria.

Tommy foi morar com um casal de amigos de Pedro, em uma casa junto ao mar, onde passeia livre todos os dias.

Pedro, por sua vez, inaugurou nova etapa em sua vida. Mudou-se para outro país. A vida segue, mas seu coração guarda a lembrança daquele amigo que lhe devolveu a autonomia e a coragem.

*   *   *

Todos os seres da Criação têm seu valor, sua beleza e sua missão. No convívio com os animais, aprendemos lições de simplicidade, entrega e confiança.

O cão labrador Tommy cumpriu sua missão. Ofereceu segurança, ensinou o amor silencioso.

Se as despedidas machucam, também ensinam. Mostram que cada ciclo tem seu tempo, e que amar é saber agradecer e deixar seguir.

Assim como Pedro, um dia também penduraremos a guia da vida material. E perceberemos que a caminhada na terra chegou ao fim. Porém, não será término. Será apenas o começo de uma nova jornada, conduzida por mãos invisíveis, em outra dimensão.

Afinal, o amor não se aposenta. Ele floresce na saudade, brilha além da distância e permanece, em cada reencontro que a vida nos reserva.

Permanece indelével na memória da alma.

Redação do Momento Espírita,
baseado em fatos.

Em 12.12.2025

 

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